Este resumo
abordará os três primeiros capítulos da obra “Londres e Paris no século XIX: O
espetáculo da pobreza”, escrita pela autora brasileira Maria Stella Martins
Bresciani. Os capítulos são: “A rua e seus personagens, “A descida aos
infernos” e “A colmeia popular”. Publicado em 1982, o livro apresenta,
basicamente, o fenômeno inédito do surgimento de uma massa de pessoas pobres
nos bairros e ruas das cidades de Londres e Paris no século XIX e seus efeitos.
A autora se valeu, nesse estudo, de textos de administradores, literatos
clássicos, investigadores sociais e médicos; bem como da influência dos
trabalhos de autores como Hannah Arendt e Walter Benjamim.
Ao longo dos três textos, Bresciani discorre
sobre o pensamento de estudiosos do século XIX em relação ao novo fenômeno da
massa popular pobre nas ruas, suas péssimas condições de vida e trabalho, os
preconceitos existentes para com estes trabalhadores e as consequências e
estruturas da nova sociedade industrial que despontava naquele momento. O
trabalho, outrora doméstico, ganhou um caráter externalizado, exposto e que
conferiu ao operário uma nova identidade social, a partir das dificuldades que
enfrentou no desempenho da sua função, muitas vezes circunstancial.
Em “A rua e seus personagens”, a autora destaca
o impacto sofrido pelas suas fontes com o aparecimento de uma multidão de
trabalhadores nas ruas de Londres e Paris, ideia que perpassa o texto. Essa
abundância populacional repentina promoveu sentimentos mistos. De um lado
fascínio e surpresa; do outro, medo e terror. Ao passo que o novo cenário
urbano abastecido de novos indivíduos se mostrava como um espetáculo durante o
dia, a cidade à noite, especificamente no caso parisiense, se tornava um antro
de devaneios e promiscuidades: assassinatos, bebedeiras, brigas, jogo e
prostituição afloravam na cidade luz. Esta situação se mostrou um prato cheio
para grandes escritores da época como Charles Dickens, Edgar Allen Poe e Victor
Hugo. Obras como Tempos Difíceis e Os Miseráveis representam alguns elementos
das conjunturas inglesa e francesa.
No capítulo “A descida aos infernos”, Bresciani
se foca na cidade de Londres e no quadro que ali estava estabelecido. Ela
informa que no ambiente dos bairros operários ingleses havia uma mescla entre
péssimas condições sanitárias e de moradia, e uma superpopulação. Entre as
décadas de 1840 e 1880, toda essa multidão londrina presente em bairros como o
East End, composto pelas regiões de Benthal Green e White Chapel, representava
uma imundície e sujeira de tamanha medida que se chegava a comparar estes distritos
pobres com as “terras selvagens” mais longínquas do globo. Dessa maneira,
acreditava-se em uma degeneração urbana por parte destes londrinos, o que
gerava preconceito por parte dos empregadores, mais afeiçoados, dessa forma, ao
trabalho de imigrantes. Consequentemente, o homem da cidade teve de recorrer ao
emprego casual, efetuado nas docas, uma vez que as oportunidades de emprego,
além de carregadas de preconceitos, não acompanharam o crescimento
populacional. A ascensão do trabalho não-especializado permitiu, por volta das
décadas de 1860 e 1870, uma expansão na produção de vestuário e móveis, com
auxílio das inovações tecnológicas. Estes itens eram produzidos em larga escala
e comercializados a um preço barato para um público pouco exigente. Com o alto
número de desemprego, a quantidade de tumultos, crimes e mendigos aumentou em
Londres. A capital inglesa transformara-se em um símbolo dos malefícios que a
industrialização poderia acarretar, um antro de miséria, um inferno à céu
aberto.
Foto de famílias londrinas após serem despejadas no ano de 1901.
Em “A colmeia popular”, a autora aborda os
contextos das duas cidades, embora conceda mais espaço para se falar de Paris.
Ela destaca, de maneira geral, o posicionamento do historiador Jules Michelet
em compreender o trabalhador, suas ações e comportamento por meio da fábrica.
Continuando a ideia do capítulo anterior, de superpopulação e pobreza nas
cidades, Bresciani evidencia como a extensa população pobre e suas aglomerações
por meio de Londres geraram preocupação nas classes ricas. Esses eram vistos,
basicamente, como selvagens que saiam a caça de um emprego esporádico e
devassos que se excediam em confusões e tumultos. Para o já citado Michelet,
seria a dependência à máquina, ao patrão e à instabilidade dos vínculos
empregatícios os fatores que justificariam as atitudes violentas e desmedidas
destes indivíduos, e não a ideia de uma degradação acarretada miséria; uma vez
que os excessos seriam como que expressões de liberdade do frio das máquinas e
aproveitamento do que teria sido ganho com o emprego do momento.
Os textos evidenciam a tragédia humanitária que
se sucedeu nas cidades de Londres e Paris. A autora deixa claro que doenças,
subnutrição e mesmo a falta de espaço no lar eram rotina no meio dos cortiços
dessas cidades. Estes escritos, portanto, evidenciam uma denúncia não somente
às más condições de habitação e vivência das localidades citadas, mas também à
uma visão idealizada e utópica da industrialização, como um cenário de apenas
avanços e conquistas para todos. Certamente foram realizadas inovações em diversas
áreas do conhecimento e na produção ao longo do século XIX, porém a era
industrial, acompanhada por um grande aumento populacional, testemunhou, como a
autora diz, o espetáculo da pobreza. Os textos levantam pontos relevantes, como
os já citados, para se refletir o efeito da industrialização em pessoas pobres,
entender como esta ocorreu para os cidadãos comuns de duas cidades ícones do
Velho Mundo e suas consequências na configuração de uma cidade.
Link para aquisição do livro: https://www.saraiva.com.br/londres-e-paris-no-seculo-xix-o-espetaculo-da-pobreza-col-tudo-e-historia-321827.html
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